ARTIGO DE CARLOS BASTOS ALVES
Redes sociais, autoestima e ansiedade: quando o like não basta
Com quase quatro horas diárias conectados às redes sociais, os brasileiros estão entre os usuários mais ativos do mundo. O dado chama atenção para um fenômeno que tem se agravado: o uso excessivo das plataformas digitais, embora traga facilidades, está cada vez mais associado ao aumento de casos de ansiedade, depressão e baixa autoestima, sobretudo entre jovens, ainda que os efeitos alcancem todas as faixas etárias. Um exemplo é o da influenciadora Gkay, que revelou no início do ano estar em tratamento para lidar com distorção de imagem. A pressão estética intensificada pelo ambiente digital a levou a reavaliar a própria aparência, reduzir procedimentos estéticos e buscar apoio psicológico. A ex-BBB Gizelly Bicalho, a atriz Cristiana Oliveira e Giulia Costa, filha de Flávia Alessandra, também relataram sofrer do distúrbio. A psicóloga Denise Tinoco Bedim, professora da Unig (Universidade Iguaçu), afirma que o problema começa quando as redes deixam de ser ferramentas de conexão e passam a alimentar comparações irreais. “Ao se depararem com corpos padronizados, rotinas perfeitas e conquistas constantes, as pessoas, sobretudo jovens, passam a se comparar e podem desenvolver sentimentos de inadequação. Isso distorce a percepção que têm de si mesmas e fragiliza sua identidade, o que em alguns casos pode levar à depressão e à ansiedade”, explica.
Quando o feed vira armadilha
A comparação social, mesmo inconsciente, é um dos principais gatilhos desse processo. Denise recorre à psicanálise para explicar: trata-se de um mecanismo de defesa do ego, chamado idealização, ativado diante de sentimentos de vazio e insegurança. “Mesmo sabendo que as redes mostram apenas recortes, reagimos emocionalmente”, pontua a especialista. “As postagens nas redes sociais podem ativar sensações de pertencimento social, mecanismos de comparação e busca por padrões ‘perfeitos’, ainda que dentro de uma realidade editada, reforçando a ideia da busca pela completude, tão sonhada e imaginada.” Estudos recentes confirmam o alerta. Segundo o instituto sueco Karolinska, o uso intenso de redes sociais está ligado ao aumento da ansiedade e à queda da autoestima entre adolescentes, principalmente meninas. Já dados da plataforma Statista — um dos maiores portais globais de estatísticas e estudos de mercado — revelam que 81% dos brasileiros conectados à internet usam redes sociais. O Brasil também lidera o ranking mundial no tempo médio diário gasto nas plataformas: cerca de 3h49min por pessoa, superando Nigéria (3h44min) e Filipinas (3h38min).
Sinais de alerta
Entre os indícios de que a comparação nas redes está afetando a saúde mental, Denise destaca: sensação frequente de inferioridade; dificuldade em aceitar a própria aparência ou rotina; isolamento, tristeza constante ou perda de prazer nas atividades diárias; medo de postar ou interagir por insegurança; uso excessivo de filtros ou edições em busca de aceitação.
Como se proteger
A psicóloga reforça que é possível adotar atitudes simples para evitar que as redes sociais se tornem prejudiciais: praticar o autoconhecimento e valorizar suas qualidades; evitar comparações com vidas editadas; seguir perfis que representem realidades diversas e positivas; priorizar conversas e conexões offline; estabelecer pausas regulares e conscientes no uso das redes. A professora da Unig destaca que não se trata de abandonar totalmente as redes, mas de usá-las com mais consciência. Para ela, é essencial investir em autoconhecimento, reconhecer as próprias qualidades e buscar equilíbrio. Reduzir a exposição digital excessiva e valorizar conexões offline também são atitudes importantes nesse processo de fortalecimento da autoestima e da saúde emocional.
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